episódio 7 - Até que o Céu nos separe II

«- 22:03, hora Lisboa, esta é a 5ª entrada diária. Espero que também seja a última. Desculpe, mas estou cansado, e estes últimos dias têm sido…, intensos. Os autônomos acabaram de instalar as impressoras lá fora, e há cerca de trinta e dois..., três… acabaram de pôr os alicerces dos primeiros lotes. Alguns de nós, e como podem ver, eu sou um deles, despimos os fatos especiais. Não há nada de especial para reportar para Lisboa. A equipa está bem disposta desde que aterrou, não houve incidentes maiores, tirando o cansaço e a corrida contra o tempo. Já se sabe, né? Até agora tudo está a correr como planeado tirando um episódio caricato. Recebemos a visita invulgar do que alguns identificaram como AI da Terra, que consegui fazer by-pass dos sistema de segurança do SiC da nave. Segundo o que consta o seu  único interesse é simplesmente explorar como era isto aqui por estas bandas. A entidade assumiu aparência de uma criança entre os 8, talvez 12 anos, eu não fui o felizardo que teve hipótese de comunicar com ela. Essa sorte, se assim o podemos chamar foi dada a nossa colega polaca da manutenção das Casas Verdes, ainda por finalizar. Foi-me impossível de traduzir a conversa e concluir o relatório, a colega comunicou que o fará oficialmente após o seu turno. E eu, Engenheiro Vaz, responsável pela manutenção dos autônomos e dos AI’s respectivos, fecho a 5ª entrada de hoje. E vemo-nos amanhã, se Deus o quiser.»

Com uma palmada vira a lente da câmara para o lado e encosta-se no assento soltando aquele suspiro de cansaço que vence. Sente as pálpebras pesadas e a cair-lhe lentamente o sono quando é interrompido por uma pequena voz: «-Olá.»
Fernando vira a cabeça e vê uma jovem mulher de vestido branco de algodão, descalça, a olhar para ele. Ele abana a mão dentro da cabeça dela.  
«- AR? Como é posivel?»
Ela esboça um sorriso matreiro e simplesmente explica: «-Nanonites.»
«-Ah! Sim faz sentido.»
«-Olá!»; repete.
«-Olá.»; imita.
«-Tens nome?»
«-Ofélia.»
«-E o que te trás por Marte, Ofélia?»
«-Estou a preparar uma surpresa para a minha mãe.»
«-Importaste de elaborar?»
«-Ela nunca viu Marte.»
«-Nem ela nem ninguém!»
«-Exactement!»
«-E não pode esperar que os plasmas entram online, como toda a gente?»
«-Qual seria a graça?»
«-Pois é, qual seria a graça. Então injeta um AI para espreitar?»; Fernando esfrega os olhos enquanto rabugento solta uns queixumes incompreensíveis.
«-Quem disse que eu era um AI?»; a miúda empurra o lábio inferior para fora como um amuo.
«-Oh! Ficaste ofendida? Engraçado, não és mesmo artifical. Deixa-me adivinhar, mindsculpt?»
Encolhe os ombros e foca atenção para a pequena janela que abre o horizonte vermelho: «-Isto é bonito.»
«-É.»
«-Não gostas?»
«-É mais do mesmo.»
«-Tens saudades?»
«-Tenho. Muitas.»
«-Que chatos. Vou ter que ir.»
«-Já?»
«-Eu já venho. Não te importas, pois não?»
«-Porque havia de me importar?»
«-Não sei. O crescidos são esquisitos.»


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