episódio 14 - manda nudes


Smart_hooman: Olá
ButterMonster: Já estás de volta?
Smart_hooman: Viste o link que te enviei?
ButterMonster: Yup! Já me inscrevi, tenho entrevista na terça
Smart_hooman: Que fixe! Então sempre queres combinar um café?
ButterMonster: OK
Smart_hooman: Não queres trocar foto?
ButterMonster: Porquê?
Smart_hooman: Curiosidade
ButterMonster: E vais enviar uma tua?
Smart_hooman:Se enviares nudes
ButterMonster: LOL
ButterMonster: Que parvo!
Smart_hooman: Vá lá Ana.
ButterMonster: OK
ButterMonster: Espera
Smart_hooman: O tempo que quiseres.

Ana olha para o ecrã e tenta segurar o riso. Do Walkie-talkie ao lado sai a voz da Lu: «-Ana, vou fazer umas torradas para mim, queres?»
Pega no aparelho e carrega no interruptor de lado: «-Quero, sim.»
«-Chá?»
«-Se faz favor.»
«-É para já.»
«-Ó Lu?»
«-Fala.»
«-Há fotos minhas de bebé?»
«-Porque queres fotos tuas?»
«-Quero pregar uma partida ao Fernando.»; não há resposta do outro lado. «-Ele acabou de pedir-me nudes.»
«-Quê?»
«-Fotos minhas de rabo ao léu.»
«-E queremos mandar ao Fernando fotos de ti nesses modos?»
«-Claro que não!»
«-Então manda o passear!»
«-Lu.»
«-Diz.»
«-Acho...»
«-Gostas dele é isso?»
«-Se calhar...»
«-Não tenho fotos de ti em bebé.»
«-Nem uma?»
«-Ana...»
Ouviu uns passos aproximarem-se da porta do quarto e um bater ligeiro na madeira.
«-Ana sou eu, mas não abres a porta, está bem?»
Ana levanta-se da cadeira e senta-se de costas encostada contra a parede. «-Nunca ia fazer-te isso.»
«-Desculpa Ana, na altura não pensei em tirar fotos a um bebé entubado dentro de uma incubadora cheia de fios e… tretas, e...»
«-Porque é que me fizeste?»
«-Porque era estúpida.» ouviu-se um barulho por detrás da porta, como se alguém a deslizar lentamente para o chão: «-Tu sabes metade da história. Estava doente, não havia possibilidade de cura, ou tratamento, e ao contrário de ti, o meu sistema imunitário rejeitava qualquer tipo de nanotecnologia que me corresse no sangue. Então a solução mais óbvia, instalar-me num corpo novo. O risco da adaptação  emocional e mental num novo corpo que fosse geneticamente, ou concebido, de forma diferente, tinha uma percentagem de falha enorme. Então fiz um clone. Tu. A certa altura estava convencida de que um clone era só um vaso, sem personalidade ou consciência própria. E tu provaste-me o contrário.
«-Como?»
«-Tu começaste a mostrar sintomas da minha doença nos primeiros dias de vida. Houve uma noite a minha assistente não estava presente, e estavas a sufocar, falha pulmonar.. Tirei-te da incubadora e no meio da tua gritaria agarraste-me o cabelo. Fogo, amarraste a ele com toda a força, e quando peguei na tua mãozinha, olhaste-me de frente com a cara encharcada de lágrimas e acalmaste. Começaste a respirar. E sei lá. Houve qualquer coisa que fez clique.»
«-Foi então que inventaste Tábula rasa?»
«-Sim. É quase igual ao processo de clonagem, mas é criado por partes. Primeiro órgãos, depois membro a membro. Colas tudo, e adicionas um circuito integrado em vez de um cérebro.»
«-Mas não há foto.»
«-Ana quando fugimos do laboratório, tu já tinha 6, sei que já não te lembras, mas foram tempos difíceis. Especialmente após terem-te injetado com nanoites alterados.»
«-E desde aí nunca mais pode abraçar-te.»
«-Sei que é complicado, mas olha o lado positivo, conseguiste tirar diploma em engenharia mecânica, inscreveste-te para a missão de Marte, e com sorte, ainda levas um namorado na tua nave espacial.»
«-É só um amigo.»
«-Por enquanto.»
«-Lu.»
«-Diz.»
«-Obrigada por não teres desistido de mim.»
«-Espera»
Uma foto a cores de uma bebé de fraldas a sorrir desliza pela brecha da porta.
«-O que é isto.»
«-Uma foto.»
«-Mas não sou eu.»
«-Ele não precisa de saber.»
«-Mas sei eu.»
«-E tu não és igual a mim?»

Ana olha para a foto, vendo o sorriso rechonchudo e desdentado, salpicado com sardas numa praia que não conhecia. «-Sou.»



ButterMonster: <Sending file>
Smart_hooman: <Accepted>
Smart_hooman: LMAO
ButterMonster: Não sou gira?
Smart_hooman: Muito bom. Só mesmo tu. Vemo-nos terça.
ButterMonster: OK

Smart_hooman: Ouvi dizer que gostas de torradas?

episódio 13 - Não me toques!


«-Os clones morrem novos. Quanto mais velho é o doador de célula, maior é a desvantagem do clone. A Lu tinha 38. Logo, mesmo parecendo um recém-nascido, a verdade, é que cada célula do meu corpo era a de um adulto. Julgo que ninguém estava à espera que sobrevivesse, mas tinhas que a conhecer, a Lu, nunca vi pessoa mais teimosa. Enfim passei, uma infância enfiada numa batina com o rabo ao léu até que houve aquela noite.»
«-O que aconteceu?»; pergunta Vicente.
«-A morte da minha irmã.»
«-Mas ela não está viva?»
«-Está.»

«-Ana, pequena, Ana. Acorda»; disse uma voz de tom grave. A criança virou-se, abrindo a boca, coçando o cabelo despenteado. «-Acorda. Chegou a hora.»; disse ele agarrando os ombros miudinhos obrigando-a sentar-se na cama metálica. «-A Lu?»; pergunta a criança.
«-A Lu não está nada bem, pequena. Nada bem mesmo.»
«-O que aconteceu? Ela vai ficar bem?»; nota-se na voz um medo tremido e o olho espantado com a remela ainda colada as pestanas.
«-Vai, vai tudo ficar bem, mas preciso de ti na sala de transfere, caso não corra.»
«-O que preciso de fazer?»; disse interrompida por uma tosse seca que a fez cuspir sangue para a palma da mão.
«-Está a piorar isso.»; ela encolheu os ombros. «-Vou administrar-te um remédio que vai fazer-te sentir melhor. Pelo menos por enquanto.»
«-A Lu?»; insiste.
«-A Lu está a morrer, estamos a copiar a mente dela agora. E vamos tentar o transfere para uma tábula rasa ainda esta noite.»; explicou, mas sem preocupação que ela entendesse, enquanto injetava um líquido pelo tubo do cateter ligado ao braço manchado com hematomas.
«-E eu?»
«-Tu, minha pequena, és o plano B.»

Andaram de mãos dadas pelo corredor, com ela descalça. As pernas tremiam-lhe quando reparou na figura miudinha deitada numa maca. Ainda respirava e gemia. Ana apertava com mais força a mão do estranho.
«-Tira-a daqui!»; grita a voz que ela reconhece.
«-Lusitânia, não há tempo a perder.»; dirigiu-se para um dos grandes ecrãs ligado a máquinas e mais máquinas. Haviam tubos e cabos espalhados pelo chão branco de azulejo frio.
«-Tira-a daqui!»; repete.
«-O scan está quase completo, daqui a alguns minutos vais perder consciência e podemos iniciar o transfere.»
«-Pará, não lhe toques!» continua, começando a pontapear levemente o lençol que lhe cobria o corpo. Do outro lado do quarto, sobre uma maca estava outra pessoa deitada, despida, sem se mexer. Ana perguntava se era aquilo que o homem estranho chamava de tábula rasa. Ana, sem ele se aperceber, aproxima-se e estica a ponta dos pés para ver quem era ou o que era. Parecia exatamente a sua irmã, mas mais nova, menos cansada. A cor pálida da pele, era contornado por cabelo prateado em vez dos cabelos longos encaracolados. Não havia sardas a salpicar-lhe o rosto. As unhas não estavam roídas, o rosto liso e imaculada. A barriga sem estrias e o umbigo ausente. Ana nunca percebeu quem ou que era, mas era perfeito.
«Tira-a daqui! Pára! Pará, por favor…»; gemeu enquanto perdia a voz.
«-Ana afasta-te!»; ordena, empurrando-a para o chão. «-Queres mata-la mais uma vez, porcaria de fedelho!»; a criança começa a chorar e deixa-se ficar no chão.
«-Quanto mais choras  menos mijas!»; disse o homem voltando a focar-se diante do ecrã. Ana espreita a irmã entre lágrimas que começava a fechar lentamente os olhos.
«-Lu? Lu!»
Passado uns longos instantes, subitamente sentiu uma presença atrás dela abraçando-a que lhe interrompe o choro: «-Vá, vá já passou. Não devias estar aqui. Desculpa, Ana.»; é a voz da irmã.
«-Lusitânia! Não lhe toques, ainda não fiz ainda qualquer rastreio! Ela pode contaminar!»
Ana virou a cara e olhou para o rosto inalterável que exibia uns olhos vermelhos vivos e elétricos: «-Lu? És tu?»; vira a cara para o outro lado da sala e repara no rosto inanimado deitado na maca. Não entendia, mas sentia que qualquer coisa fez com a que a irmã mais velha tivesse passado de um lado para o outro.
«-Tu! Como atreveste a envolver uma criança!»
«-É um clone!»
«-Como te atreves meu ordinário! Não foi o que combinamos!»
«-E se falhasse Lusitânia, morrias porra!»
«-O propósito era copiar-me para um SiC e depois fazias a transferência, puta da incompetência!»
«-Lu, mas resultou!»
«-Filho da puta!»; grita ao levantar-se largando os braços pequenos. Dirigiu-se a ele, e mesmo sendo de estrutura baixa agarrou-lhe pelo pescoço com uma mão. Ana só lhe conseguia ver os olhos vermelhos cintilantes de raiva enquanto o homem perde equilíbrio sufocando de joelhos diante da mulher nua.
«-Lu…»
«-Eu disse nunca a minha irmã!» e largou o corpo morto no azulejo branco. Ana note-lhe os olhos mudarem de cor viva magenta para um cinzento sem brilho. Havia qualquer coisa que nesse homem se tinha desligado. A mulher virou-se para a pequena baixando o torso na sua direção. «-Ana.»
«-Lu?»
«-Anda, vamos sair daqui.»; sugere a agarrar na mão pequena.
«-Ele está…?»
«-Não te preocupes, é só uma máquina. Não é pessoa e nunca foi. Ninguém vai dar pela falta, meu amor.» Lusitânia subitamente solta um grito.
«-Lu!»; exclama a criança sentido a mão da mulher soltando-lhe os dedos. «-O que se passa?»; pergunta pegando de volta a mão da mulher.
Lusitânia volta a gritar, escapando a mão de novo.
«-Fui eu que te magoei?»; pergunta Ana com os olhos molhados apavorados.

episódio 12 - Vamos então recapitular

O desconforto do silêncio fora interrompido pelo som metálico da chaleira a bater o chão; «-Como sabes o nome da minha irmã?»; pergunta Ana novamente.
«-Lusitânia?»
«-Lu.»
«-Lu?»
«-Ninguém a trata pelo nome, Vicente. Só Lu.»

«-Vamos então recapitular.»; disse Ana enquanto  acaba de engolir o pedaço de torrada que levou a boca: «-Tu tens uma irmã.»
«-Sim.»
«-Que morreu.»
«-Sim.»
«-E antes de morrer os teus pais copiaram a cabeça de uma criança de nove para dentro de um chip.»
«-Um SiC.»
«-Vicente, é a puta de um chip.»
«-Visto nessa perspectiva, então sim, Ofélia foi copiada para a puta de um chip.»
«-Os teus pais agora, mais precisamente, a tua mãe, Patrícia, e ainda não percebi porquê, quer transferir a tua irmã para esses corpos sintéticos, todos janotas, que vocês chamam de Tábula Rasa.»
«-Certo»
«-Ou então, transferi-la lá para tua casa, em vez, da tua Lia.»
«-Sim.»
«-Que uma namorada.»
«-Ex.»
«-Marta, que apagou o teu AI.»
«-Sim.»
«-E tu, ficaste todo fodido, porque estamos a falar de um AI que alteraste para singularidade nível 5.»
«-Sim.»
«-E só para ter a certeza que entendi isto tudo, tu começaste a alterar a consciência da Lia aos 12 anos, o que, segundo as minhas aulas de história do 11º ano, é ilegal, aliás crime contra a humanidade, modificar a “consciência” a um ser não-biológico. »
«-Sim.»
«-O que é que a tua Lia conseguia fazer?»
«-Sarcasmo. Entendia o conceito de humour. Tinha ao longo dos anos acrescentado, modificado, alterado, codificado mods que tornavam a Lia única. Não havia outra igual.»
«-Mandava piadas?»
«-Lia tinha sensores. Não precisava de introduzir qualquer credencial de acesso para ela me reconhecer. No entanto, cada vez que bebia uns copos a mais ou só porque sim, não iniciava qualquer processo sem que introduzisse o meu tag.»
«-Não seria um glitch? Um mau funcionamento?»
«-Quem me dera! No início também considerei até que notei que não havia padrão, era uma escolha dela. Entende que tinha a Lia desde miúdo. Primeiro esteve instalada no meu quarto. Depois seguiu-me para a faculdade, e acabou no meu apartamento.»
«-A Marta não chegou a pedir-te desculpa?»
«-Chegou. Até queria substituir-me a Lia por outra.»
«-Mas isso era inaceitável. Aquela era a tua Lia.»
«-Sim, era.»
«-Então, a tua irmã disse para falar comigo porque era possível recuperar a Lia.»
«-A Ofélia explicou-me que por nunca ter feito os upgrades obrigatórios da Lia, e que sendo que ela tem mais de vinte anos e tal, todos o meu trabalho estaria ainda salvo algures.»
«-Mas o que a tua irmã queria era instalar a tua Lia para dentro de uma tábula rasa.»
«-Sim, o que acho impossível para ser franco.»
«-Ao que ela te respondeu que era perfeitamente possível, e que a minha irmã seria a resposta para todas estas questões»
«-É isso tudo. Esta é a minha história. Um tolo que perdeu o AI que o acompanhou toda uma vida.»
«-Vicente, eu não sei da Lu. Há meses que estou a tentar contactá-la e simplesmente não sei nada dela.»
«-Sabes do ultimo lugar onde esteve? Onde trabalha? Onde vive? Qualquer coisa?»
«-Nada. a minha irmã vive escondida desde que me lembre. Cortou relações com todos os amigos e família.»
«-A Ofélia deu a entender que pessoas perigosas andavam atrás dela.»
«-Eu sei.»
«-Se calhar podemos ajudá-la.»
«-Não.»
«-Ana.»
«-Vicente, já chega!»
«-Prometi à minha irmã.»
«-E eu prometi à minha!»
«-Ana, qualquer coisa, por favor.»
«-Nem ao Fernando contei.»; Ana desviou o nariz para o prato de porcelana e com o dedo indicador brincava com as migalhas: «-Eu estava a gostar da ideia de ter um amigo. De ter alguém com quem podia barafustar sobre os meus dias.»
«-Não percebo, porque é que isso ia mudar?»
«-Porque não ias conseguir olhar  para mim da mesma forma.»
«-O que é que fizeste assim de tão terrível que não te veria com os mesmos olhos?»
«-Eu não fiz nada Vicente. É mais o que sou.»
«-Explica-me. Sou todo ouvidos»
Ana poisa o prato sobre a pequena mesa de madeira de estar. Desliza o corpo sentado sobre o sofá mais perto do rapaz e pega-lhe no queixo com uma mão enquanto que a outra aponta para a cara.«-Vês?»
«-A tua cara?»
«-Sim.»
«-Não percebo.»
«-Se vires outra igual, então encontraste a Lu.»
«-É a tua irmã gémea?»
«-Não Vicente, a Lu é 40 anos mais velha.»
«-Mas a cara é igual a tua…, mas com rugas.» diz ele enquanto com os dedos desenha riscos no ar para reforçar a confusão óbvia que lhe sobressaem os sobrolhos.
«-Não. Ela é…, melhor, eu sou exactamente a imagem dela.»
«-Plástica?»

«-Clonagem. Eu sou o clone da Lusitânia.»

episódio 11 - Espelho Meu


«-Estou a ficar velha»
«-Tu e eu, Patricia.»
«-Olha-me para estes olhos, parecem pés de galinhas!»
«-Mas quando é que foi a última vez que viste uma galinha? Eu cá não me lembro.»
«-Consegues ser mesmo parvo Vitor!»
«-É a idade. Não perdoa.»
«-E tiveste alguma novidade?»
«-Nada.»
«-E já mandaste os teus homens ver em Viana do Alentejo, como eu te disse!»
«-No Alentejo? Tu queres que vá procura-la em Viana do Alentejo?!»
«-Onde mais aquela mulher poderia estar?»
«-Em Viana do Alentejo é que não é de certeza!»
«-Como podes estar ai, assim tão calmo e não usar todos os recursos que temos?»
«-Primeiro, já viste as horas? Estou cansado! E segundo: não vou arriscar a vida de homens honestos a procurar um fantasma no meio do Alentejo! Não há viva alma que possa ter sobrevivido ou que ainda consegue lá estar, Patricia! Aquilo é uma selva de toxinas! Quem é que algum dia poderia lá viver?»
«-A Lusitânia.»
«-Opá, esquece essa obsessão, mulher! Há anos que corres atrás dela. E para quê? Para viveres para sempre? P’ra quê? Aproveita é o agora, o presente! O teu marido enquanto ainda cá está!»
«-Olha para a minha cara, Vitor! E olha para a tua!»
«-O que tem o meu focinho agora?»
«-Estamos a ficar sem tempo!»
«-Que parvoíce é essa mulher! É o que acontece! Nascemos, crescemos, e depois acaba-se, volta-se para a terra. É assim, sempre foi, e há de ser.»
«-A tua falta de visão e ambição dá-me cabe dos nervos.»
«-Vem mas é para a cama em vez de estares colada aí ao espelho estressada.»
«-Isto não são rugas de idade, isto são rugas de preocupação, de medo!.»
«-’tão, vem p’ra cama preocuparte. ‘Tá frio, caralho! »
«-E aquela sirigaita que tu arranjaste só nos trouxe mais problemas!»
«-’tas a falar de quem agora? Da Marta?»
«-Esse fulaninha mesmo.»
«-Ela fez exatamente o que pediste. Desligou la a maquineta do Vicente. Ainda não percebi porquê mas a esta hora também já não quero saber.»
«-O Vicente nem a consegue ver pintada e a Ofélia nem a deixou falar quando fez avaliação. Miúda teimosa, tem mesmo o teu feito. Não saiu a mim!.»
«-Ó Patricia, porque não deixamos a miúda em paz? Depois de tudo o que passou, ela está feliz ali no cantinho dela.»
«-Mas ‘tas parvo! Ou fazte? Perder a única oportunidade de termos um mindsculpt dentro de uma tábula rasa, já imaginaste as portas que nos abre!?»
«-E nós vamos ser aqueles que vamos usar a nossa própria filha como cobaia?»
«-A nossa filha morreu Vitor! Há trinta anos atrás!»
«-Engraçado, usando essa tua lógica de que te serve todo este drama? Quando for a tua vez, mataste para que o mundo que já está com os pés na cova, tenha só uma amostra da Dona Patricia Castro? Achas que alguém vai sentir falta desse teu feitio de merda!»
«-Não sei como te aturo!»
«Nem eu! É que nem eu sei, caralho! E sabes que mais! Fica aí a chupar o espelho! Vou mas é dormir para o quarto de hóspedes! Boa noite! E bem haja!»